Entre o Muro e o Meio-Fio propõe um diálogo com os lugares que se enquadram nos moldes dos centros urbanos, nas esquinas, calçadas, lugar de passagem onde a vida acontece. O título da exposição aborda esse espaço enquanto experiência visual propiciada pela vivência do ambiente urbano, paisagem fundamento do meu imaginário, uma das motivações e urgências dentro de um rastreamento social.
As sequências de grandes painéis de papelão distribuídos pela sala de exposição formam paredes de relevos pintados de negro como matrizes de gravura. As paredes são suporte e limite para as pinturas, apresentadas agrupadas, combinando as perspectivas, criando uma espécie de labirinto levando o espectador a um universo de infinitas possibilidades.
As imagens direcionam o olhar para “pontos de fuga” que transitam na poética que se instaura na própria frase-título da exposição Entre o Muro e o Meio-Fio, presente como um murmúrio indistinto que oscila entre o “dentro e o “fora” na procura de um lugar, de uma “passagem secreta”, mesmo estando num beco sem saída, para um mundo mais flexível e humano.
A escala é parte constitutiva do trabalho onde a pintura invade o espaço e o espaço se faz outro lugar. O papelão corrugado está presente como estrutura estética e como matéria, resultado de incisões onde os cortes em baixo relevo são vislumbrados nas linhas como desenho e rasgos de luz na pintura. A tinta gráfica, offset é um processo migratório da gravura, assim como o trabalho em si, dentro do pensamento da pintura-relevo como uma matriz. A precisão do desenho, linhas retas e firmes, em contra ponto, carrega uma frágil construção e exige uma delicadeza, já que o instrumento de corte e registro é o estilete. Qualquer local que se fere, emite luz... As sobras de papel - resultado dos entalhes - caem ao chão como resquícios dessa luz.
A Galeria Antonio Bandeira CCBNB em Fortaleza e CCBNB Cariri, propiciam um vínculo estratégico com a temática proposta. Os moradores e os visitantes da cidade estão inseridos no conceito da obra como observadores e participantes da história do lugar. A visualidade e o processo do trabalho se assemelham as ilustrações dos folhetos de literatura de cordel, como as xilogravuras que, através do seu “fazer”, guarda uma similaridade à impressão da pintura apresentada como uma matriz de gravura.